Uma nova criatura do coração da Amazônia

O Globo, Ciência, p. 36 - 22/02/2008
Uma nova criatura do coração da Amazônia
Descoberta espécie de macaco em ponto remoto da floresta. Mas animal já está ameaçado de extinção

Carlos Albuquerque

Primeiro, a boa notícia: foi encontrada uma nova espécie de macaco na Amazônia, na região do Pico da Neblina, próximo à fronteira com a Venezuela. O anúncio da descoberta foi feito pelo biólogo brasileiro Jean-Phillipe Boubli, atualmente na Universidade de Auckland, na Nova Zelândia, na revista "International Journal of Primatology". O primata, do grupo dos uacaris, ganhou o nome de Cacajao ayresii, em homenagem ao biólogo José Márcio Ayres, que foi o responsável direto pela criação da primeira Reserva de Desenvolvimento Sustentável na Amazônia e morreu em 2003. A má notícia: por habitar uma área pequena e ser alvo de caça predatória, o Cacajao ayresii já pode ser considerado ameaçado de extinção.

- Trata-se de um animal raro, que tem uma distribuição geográfica muito restrita - explica o primatólogo americano Anthony
Rylands, diretor do Programa de Espécies Ameaçadas do Centro para Ciência Aplicada à Biodiversidade (CABS), da Conservação Internacional. - Como é muito caçado, ele já está ameaçado de extinção.

Normalmente, os uacari habitam regiões alagadas da floresta, nas margens dos rios. Costumam viver em grandes grupos, alguns com centenas de indivíduos. São animais sem pêlos na face e que possuem uma cauda menor do que o comprimento do corpo. A descoberta é surpreendente porque os macacos estão entre os animais mais estudados do mundo.

Índios ianomâmis ajudaram na busca

Para a descoberta, Boubli contou com a ajuda dos índios ianomâmis. Foram eles que o alertaram sobre uacaris que diferiam dos que vivem no Parque Nacional do Pico da Neblina, onde o biólogo já tinha trabalhado antes. Acompanhando os índios em suas incursões pelo Rio Acará, um dos afluentes do Negro, ele encontrou a nova espécie.

Segundo Boubli, que já viveu entre os ianomâmis, a busca por esse animal já durava cinco anos, mas ele estava procurando no lugar errado. Há naquela região espécies de primatas que são similares aos uacaris, o que pode tê-lo induzido ao erro.

- Foi feita recentemente uma reavaliação dos uacaris-pretos na região do Rio Negro e do Pico da Neblina - conta Rylands. - A taxonomia foi reavaliada pela aparência e genética e também considerando as distribuições geográficas. A descrição dessa nova espécie e a redefinição da que consideramos seja Cacajao melanocephalus resultaram num entendimento muito mais preciso sobre a diversidade desse grupo.

Para Rylands, esse melhor entendimento da distribuição e diversidade desse grupo de primatas será extremamente útil nos esforços para a sua conservação.

- Entendendo melhor a sua variação e também onde vivem nos dá um conhecimento fundamental para conservá-los.

Os uacaris comem frutos e insetos como outros macacos da Amazônia, mas são especialistas em se alimentar de sementes de frutos duros e lenhosos.

- Por isso, eles têm dentes caninos grandes e muito fortes - conta Rylands.

O Globo, 22/02/2008, Ciência, p. 36
Amazônia:Biodiversidade

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