Reserva Extrativista do Lago do Cuniã

napra - http://www.napra.org.br - 30/11/2012
A RESEX Cuniã ocupa uma área de 55.850 hectares localizada na margem esquerda de quem navega o rio Madeira de Porto Velho (RO) para Humaitá (AM). Uma das marcas desta reserva é seu exuberante lago, ao redor do qual grande parte dos moradores se concentram. Na época da cheia, o acesso ao lago se dá por várias vias fluviais, há cerca de 7 horas de voadeira (lancha com motor potente, geralmente 40 HP) de Porto Velho. No verão, época em que o nível dos rios e igarapés baixam e que os igapós secam, é possível chegar ao Cuniã por meio de uma trilha de cerca de 12 quilômetros no meio da mata partindo de São Carlos do Jamari, outra comunidade apoiada pelo NAPRA.

Os moradores do Cuniã são descendentes de migrantes nordestinos que vieram para Rondônia trabalhar nos seringais e de índios que habitavam a região, sobretudo os da etnia Mura. Apesar de ocuparem a região a tanto tempo, nos anos 1980 a permanência de seus moradores na localidade foi ameaçada quando foi decretada a criação de uma Estação Ecológica, uma unidade de proteção integral e que não poderia ser habitada, em toda a abrangência do lago. Somente após um prolongado período de lutas por seus direitos de permanecer no local é que a população local fez com que parte da Estação Ecológica fosse convertida em Reserva Extrativista, unidade de conservação de uso sustentável e que permite a existência de moradores. Até por conta desse histórico de lutas, os moradores de Cuniã estão entre os mais bem organizados do Baixo Madeira, possuindo uma associação forte e representativa dos moradores a ASMOCUN (Associação de Moradores do Cuniã).

Atualmente, cerca de 90 famílias habitam a reserva. A maioria das casas são contruídas de madeira, havendo algumas casas com partes ou totalmente construídas de alvenaria. As famílias estão distribuídas em quatro núcleos conhecidos como Neves, Silva Lopes Araújo, Pupunhas e Araça. Os três primeiros núcleos citados se localizam ao redor do lago do Cuniã e o último fica às margens de um dos principais igarapés que desembocam no lago. O transporte entre os núcleos é feito por meio de pequenas embarcações denominadas rabetas, que possuem motores com potência entre 3 e 13 HP, ou com canoas sem motor.

Cuniã conta com uma infraestrutura modesta se comparada com outras comunidades apoiadas pelo NAPRA. Não há geração e distribuição pública de energia, sendo que os moradores dependem de geradores particulares e combustível para alimentar entre 2 e 5 casas e ter energia disponível durante algumas horas do dia (geralmente entre as 19 e 21h). A comunidade conta com 4 poços artesianos instalados, sendo que uma parcela relativamente grande dos moradores utiliza a água do lago para consumo. A comunicação entre os moradores dos núcleos é difícil, já que há apenas um telefone (público) em toda a Reserva, que fica no núcleo Silva Lopes Araujo. Outra importante ferramenta de comunicação disponível para a comunidade é uma antena para conexão remota à internet, instalada nesse mesmo núcleo em um infocentro implantado pelo NAPRA. É também em Silva Lopes que se localiza a sede do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, orgão público responsável pela gestão da Unidade de Conservação, o posto de saúde, a escola da comunidade e a sede da ASMOCUN.

O posto de saúde comunitário está instalado em um pequeno prédio de madeira e que apresenta risco de cair devido a deterioração de sua base, feita em madeira. O posto conta com uma equipe fixa, mantida pela Secretaria de Saúde de Porto Velho e composta por 2 microscopistas, 1 agente comunitário de saúde, 2 agentes de endemia e 1 motorista da "ambulancha" (embarcação disponibilizada pelo Governo do Estado para transportar efermos em emergências). A Secretaria Municipal de Saúde mantém o posto abastecido com preservativos, cloro para o tratamento da água e medicamentos básicos. Sobretudo no período da seca, em que o acesso fluvial é mais difícil, a equipe frequentemente falta e a comunidade fica meses sem atendimento destes profissionais.

Grandes dificuldades também são encontrados na educação no Cuniã. A escola da comunidade conta com um número de professores muito abaixo do necessário para atender a todos os estudantes. Em 2009, apenas 5 professores deram aula para todas as turmas do 1o ao 9o ano, sendo que apenas 3 deles possuiam formação de nível superior. A estrutura física também é insuficiente e devido a falta de salas de aula algumas séries assistem aula em salas improvisadas na sede da associação comunitária e em uma capela. Entre o 6o e o 9o ano os alunos são parte de um projeto especial da Divisão de Ensino Rural da Secretaria Municipal de Educação denominado Projeto Ribeirinho, que se baseia na proposta da pedagogia de alternância . Apesar dessa estratégia ser bastante relevante para a realidade da comunidade, a melhoria da qualidade da educação esbarra nos problemas anteriormente apontados.

A economia local de Cuniã se baseia, como em outras comunidades em que o NAPRA atua, na pesca (para venda e consumo), extrativismo (açaí e castanha para venda e consumo e diversas outras frutas da floresta só para consumo), agricultura (mandioca e banana só para consumo), produção de farinha (para venda e consumo) e caça (só para autoconsumo, na maioria dos casos). Uma diferença para as outras comunidades é que o transporte de mercadorias para o Cuniã é mais difícil do que para as comunidades que beiram o Madeira. Como há menos compradores da produção das famílias, os preços pagos são quase sempre inferiores aos praticados em outras localidades. Os produtos vendidos por pequenos comerciantes nas comunidades também são relativamente caros, o que estimula as famílias a produzirem mais para autoconsumo do que em outras comunidades da região. Toda a produção comercializada é controlada pelo Instituto Chico Mendes, devendo estar de acordo com o Plano de Manejo da RESEX, o que impede a superexploração dos produtos comercializados. Na época da cheia boa parte dos pescadores recebem o seguro defesa. A maioria das famílias também acessam o bolsa família, que consiste em uma ajuda substancial para a manutenção das famílias.

Uma constante ameaça para a população de Cuniã é a superpopulação de jacarés no lago. Diversos caso de ataques a moradores já foram registrados, inclusive resultando em morte de crianças. Essa situação foi fonte de muitos conflitos com os órgãos de controle ambiental, que proibiam a caça o abate do jacaré para a comercialização. Para 2010, entretanto, há boas perpectivas que o abate de jacarés para a comercialização seja feito de maneira controlada.



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UC:Reserva Extrativista

Unidades de Conservação relacionadas

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