Peixes se renovam em áreas protegidas

O Globo, Ciência, p. 35 - 03/07/2008
Peixes se renovam em áreas protegidas
Estudo feito em Abrolhos mostra que pescado cresce em zonas conservadas

Carlos Albuquerque

Conservar a natureza é um bom negócio até debaixo d'água. É o que comprova um estudo feito pelos biólogos Ronaldo Francini Filho e Rodrigo Moura na região de Abrolhos, no sul da Bahia, entre 2000 e 2005. Ele revela que a população de diversas espécies de peixes cresce em áreas de proteção, incluindo algumas de grande valor econômico, como o badejo, cuja população no local aumentou em cerca de 30 vezes.
Publicado na revista "Aquatic Conservation", o trabalho da dupla é o primeiro realizado no Brasil a avaliar a importância de áreas marinhas protegidas a longo prazo. Seu resultado pode fornecer importantes dados para o manejo da pesca, num momento em que o Brasil e o mundo são ameaçados pelo iminente colapso dos estoques causado pela sobrepesca.
- Áreas de proteção como Abrolhos foram criadas com o objetivo inicial de preservar a biodiversidade - explica Ronaldo Francini Filho, que trabalha na Universidade Estadual da Paraíba. -- Mas o nosso trabalho mostra que, a partir de um certo momento, esse locais, quando efetivamente protegidos, servem também como exemplos de manutenção da pesca. Essa aplicação pode ter um impacto econômico imenso para o país, cujos estoques de peixe têm sido superexplorados nos últimos anos.
Com cerca de 46 mil quilômetros quadrados, o Parque Nacional Marinho dos Abrolhos abriga os mais extensos recifes do Atlântico Sul, além de rica biodiversidade espalhada por diversos ambientes marinhos.
- Trata-se também uma região de grande importância social, já que milhares de pessoas dependem de Abrolhos para a sua sobrevivência.
Isso tudo nos motivou a realizar esse estudo ali - conta Francini.
Ao longo dos cinco anos de pesquisa, foram monitoradas 90 espécies de peixes associadas aos recifes, tanto em áreas integralmente protegidas do parque como em zonas extrativistas como a Reserva do Corumbau, onde a pesca é permitida. O trabalho foi feito através de séries de mergulhos - entre 500 e 700 por ano - e uma metodologia chamada pelos pesquisadores de censo visual.
- Esse método que desenvolvemos é extremamente preciso - explica o biólogo.
- Nele, delineamos uma área em torno do mergulhador, que volta diversas vezes a esse local, medindo a quantidade e o tamanho dos peixes.
Em Corumbau, os pesquisadores contaram com uma inusitada parceria: os pescadores da região, que abriram mão de uma área de pesca com o objetivo de recuperar os estoques.
- Conseguimos esse acordo depois de uma série de reuniões, nas quais mostramos quais poderiam ser os efeitos positivos da extensão da área protegida - conta Francini.
Depois de três anos, os estoques se recuperaram, com o surgimento de grandes quantidades de espécies como o budião-azul e a guaiúba, além do badejo.
- Mas alguns dos pescadores romperam o acordo e começaram a fazer pescas ilegais na área - revela Francini.
Segundo o biólogo, isso reforça a importância tanto da fiscalização das áreas protegidas, a longo prazo, como também da conscientização dos pescadores.
- O aumento que observamos é incipiente.
Ele só se estabiliza depois de 40 anos. Mas para isso precisamos de um trabalho de fiscalização de longo prazo. E os pescadores devem entender que a preservação é útil para eles também, já que as larvas dos peixes renovados extrapolam os limites do Parque e se espalham pelo mar. Eles vão se beneficiar porque a pesca vai se beneficiar.

O Globo, 03/07/2008, Ciência, p. 35
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