Parque Nacional do Itatiaia é tema de série especial da TV Rio Sul - parte 2

G1 - http://g1.globo.com/ - 24/02/2015
Nós chamamos de Parque Nacional do Itatiaia. Eles chamam de casa. Cinquenta mil insetos diferentes. 111 mamíferos. 350 espécies de aves. Dezenas de répteis e anfíbios. E um ser humano pra lá de curioso. "Ninguém sabia muito bem o que tinha na floresta", disse Christian Spencer, artista plástico australiano que vive há 14 anos dentro do Parque Nacional. Fotógrafo nas horas vagas, o interesse pelos vizinhos rendeu um curta-metragem filmado e editado por ele, com registros impressionantes da fauna do Itatiaia. Paqueras, coreografias. Bastidores da intimidade da natureza. Paixão despertada por uma visão marcante.

"Estava em cima de um morro. Continuei descendo e saiu correndo para a vida uma queixada. Um segundo depois disso, pulou do mesmo lugar uma onça-parda gigantesca. Pulou na trilha, à nossa frente e em vez de ir atrás do porco, virou e começou a descer a trilha que a gente estava descendo", contou o artista plástico.

Foi o único encontro até hoje. Depois disso, Christian só viu a onça pelas imagens das armadilhas fotográficas que ele espalha pela floresta. Inesperadamente, foi o animal mais visto em seis anos. Mas nenhum registro impressionou tanto quanto um vídeo gravado em setembro do ano passado. "O que está dentro da câmera é muito especial", disse. Tão especial que ele manteve em segredo por quatro meses, até decidir ceder à equipe da TV Rio Sul. As imagens inéditas mostram uma onça macho, de 70 quilos. O animal mais temido pelos bichos do Itatiaia... Mostrando que também sabe ser fofinho. Ela passa, volta e se deita bem em frente à câmera. Depois, começa a rolar, como um gatinho indefeso. São três minutos de folga gostosa, com direito a bocejo e tudo. Um comportamento difícil de ser registrado.

Duas semanas depois, ela voltou à noite e repetiu o ritual. Lambeu a patinha, e em um certo momento, parecia saber que estava sendo filmada. O vídeo foi feito em uma trilha em mata fechada, diferente daquelas abertas para visitação. E só o Christian sabe chegar.

Enfrentamos subidas íngremes e galhos pontiagudos. São trilhas como essa que o Christian percorre para observar os animais e instalar as armadilhas. Uma hora e meia depois, chegamos ao local. "A armadilha estava qui, num pedaço de árvore amarrado. Ela passou aqui, deitou e começou a rolar. Fazer o show dela. A gente acha que foi por causa da urina dos porcos queixadas que estavam aqui. Ela estava rolando para ficar com o cheiro deles ou a planta é um tipo de inseticida que ela usa para mosquitos, carrapatos", explicou.

Encontrar a onça é muito difícil, segundo Christian. Depois desses dois flagrantes, foram quatro meses sem nenhum sinal dela. Ou delas. Izar Aximoff é um dos pesquisadores que analisam as imagens das armadilhas fotográficas. Um dos objetivos é determinar a quantidade de indivíduos da espécie na área estudada. "Identificando cicatrizes em orelhas, pequenos cortes na face a gente chegou à conclusão de quatro indivíduos. Quatro indivíduos sem considerar os dois filhotes que a gente registrou", explicou Izar.

Mas os turistas não precisam se preocupar. O maior predador do parque não ataca seres humanos. "Mesmo no Pantanal, não se ouve falar em ataque de onça parda a humanos, ao contrário da onça pintada. Mesmo no lugar onde há fartura de capivaras, animais assim, elas matam", disse o pesquisador Sérgio Vaz.

"As onças aqui do parque parece que são muito boazinhas. Ficam só rolando", contou Christian. A curiosidade dele rendeu ainda uma inusitada interação entre um porco-do-mato e dois pássaros da espécie 'olho-de-fogo-do-sul'. "Os pássaros estavam pegando os bichinhos que estavam sendo espantados pela passagem do porco", explicou Sérgio Vaz.

Com a câmera na mão, o artista plástico encontrou um bando de escandalosos muriquis. "Eles fizeram todo aquele barulho para me assustar. Eu não fui a lugar nenhum", disse Christian.

Ameaçado de extinção, ele é o maior primata das américas. Os machos atingem um metro e meio de altura e pesam até 15 quilos. Itatiaia pode ser um oásis da espécie: pesquisas estão perto de confirmar a ocorrência tanto do muriqui-do-norte, que apresenta manchas brancas na face, quanto do muriqui-do-sul, que tem o rosto todo preto. "Existe um plano de ação para conservação dos muriquis elaborado pelo Instituto Chico Mendes Biodiversidade. Sendo que Itatiaia é colocado como 6o sítio de maior importância para pesquisa", disse Izar.

As primeiras pesquisas sobre a fauna do Itatiaia datam de 1895. E até hoje, ainda se sabe muito pouco... "Tem muito mais além dos olhos aqui. Você vai descobrindo esse mato. E todo dia você aprende uma coisa nova", disse Christian.



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Produção Cultural:Cinema, TV, Vídeo

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