Maravilhas privadas de Guainumbi

O Eco - www.oeco.com.br - 04/02/2009
Há cinco anos, o veterinário João Marcelo da Costa conseguiu realizar um sonho de infância: comprou uma área recheada de vegetação pelo simples prazer de conservá-la. Situado entre a cidade histórica de São Luiz do Paraitinga e Ubatuba, ambas em São Paulo, o terreno de 54 hectares recebeu o nome de Reserva Guainumbi - ou beija-flor, em Tupi Guarani. No processo para transformar o local em uma Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN), o proprietário costuma receber visitantes brasileiros ou estrangeiros interessados no bom contato com a natureza. Nos últimos dias 13 e 14 de janeiro, por exemplo, foi a vez do editor e fotógrafo Almir Cândido conhecer o lugar e capturar belas imagens (confira algumas clicando no slideshow).

Desde os oito anos, Costa sonhava com sua própria floresta. O conceito de RPPN sequer existia na época, mas já estava inserido nos pensamentos do futuro veterinário. "Queria uma área em que ninguém pudesse fazer mal para os bichos, plantas, nada", diz. Durante sete longos anos, procurou alguma propriedade com bastante verde perto de sua cidade natal, Santa Bárbara do Oeste (SP), com potencial para a criação de uma reserva.

Viajando de carro, buscou terras entre o Rio de Janeiro e Chuí, no extremo sul do Rio Grande do Sul. "Conheci praticamente todos os fragmentos de Mata Atlântica que existiam no caminho, e aproveitei para avaliar as condições de cada um", explica. Apesar de percorrer parte expressiva do país, Marcelo se encantou pelo terreno de 54 hectares cuja sede fica bem próxima ao Núcleo Santa Virgínia, do Parque Estadual da Serra do Mar. "Escolhi ali porque fica entre dois parques (Serra do Mar e Nacional de Itatiaia) bem preservados e podemos formar corredores contínuos de mata nativa. Também acabamos tendo o apoio da segurança deles", conta.

Após a aquisição da área, decidiu colocar em prática a vontade de transformar o local em uma reserva particular. Com poucos recursos para manter a Guainumbi, Marcelo investiu em sua maior paixão: o turismo de observação de aves. Com isso em mente, construiu uma pousada de mínimo impacto, com capacidade para acolher doze visitantes. Apesar de ainda não pagar os custos operacionais da reserva, o resultado da empreitada é muito satisfatório.

"Tivemos uma repercussão muito grande, enorme apoio moral e de informação, tanto pela Internet quanto pessoalmente. O impacto foi tão extenso que brinco ser maior do que a própria área", diz. Ele sabe do que fala. Um dos pré-requisitos para receber o status de RPPN é fazer um levantamento da fauna e flora da propriedade. Sem recursos para contratar uma equipe técnica, pediu ajuda a seus hóspedes para registrar a fauna e flora observadas durante cada estadia.

Até agora, já foram identificadas 244 espécies de aves, número maior do que o existente em alguns países da Europa. As armadilhas fotográficas espalhadas pela mata também mostraram jaguatiricas, sagui-da-cara-branca (ameaçado de extinção), pacas, gatos do mato, tatus, bicho preguiça e uma diversidade enorme de sapos. "Vou para a reserva, que fica a quatro horas de carro da minha casa, de quinze em quinze dias. Não há um final de semana em que não exista uma nova espécie de ave ou anfíbio avistada", afirma.

Exemplo para os vizinhos

Com todos os documentos necessários praticamente prontos, Costa imagina que o certificado da reserva saia ainda este ano. Resta apenas que as propriedades da região se desvinculem legalmente da fazenda Ponte Alta, que antigamente monopolizava as terras naquelas cercanias. De acordo com o veterinário, que pretende se mudar com mala e cuia para Guainumbi em breve, o plano de manejo será todo feito de acordo com as especificidades do turismo de observação de animais, em especial de aves. Já há, inclusive, um guia ornitológico contratado, assim como treinamento para os funcionários.

Em meados de janeiro, o fotógrafo Almir Cândido ficou hospedado durante dois dias na reserva e se encantou com a beleza do lugar. "A estrutura é excelente e já está funcionando, tudo pronto" ressalta. Durante o período em que esteve em Guainumbi, foram inúmeras as oportunidades de cliques. "Entre muitos temas interessantes, a natureza me ofertou fotos de ninhos de curió, sabiá-coleira, coleirinho e vários beija-flores. Sem contar, claro, anfíbios, insetos e uma vegetação tão diversificada", completa.

Até agora, Marcelo da Costa já plantou oito mil mudas de Mata Atlântica nativa em sua reserva e gosta de dizer que, em apenas três dias, um biólogo visitante avistou 22 espécies de aves. "Sou classe média, não tenho condição financeira alta. Costumamos ouvir que RPPN é coisa de rico ou de grandes empresas, mas minha mensagem é que todos podem fazer algo pela preservação do meio ambiente. Isso dá uma satisfação enorme. E também pretendo provar que a floresta em pé tem, sim, um alto valor", declara o veterinário.

Mas seus planos não param por aí. Ele deseja conseguir apoios para comprar novas áreas e aumentar a reserva. Para tanto, já começa a ter a admiração dos vizinhos, acostumados ao desmatamento. "Quando cheguei à Guainumbi, tinha palmiteiro e desmatamentos. Agora, ninguém mais entra aqui, respeitam. Quatro outros proprietários, inclusive, já vieram me pedir dicas e entender o que eu faço. Eles vêem que a fazenda deles está feia e a minha muito bonita, e percebem que não precisam derrubar árvore. Além disso, as caminhadas dos observadores de aves, sempre com roupas camufladas, servem como fiscalização. O pessoal olha e tem medo de fazer algo errado e ser delatado", encerra
UC:Geral

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