IDH das cidades melhora, mas educação é entrave

FSP, Cotidiano, p. C1 e C7 - 30/07/2013
IDH das cidades melhora, mas educação é entrave
Desenvolvimento sobe 47,5% e vai de 'muito baixo' para 'alto' em duas décadas
30% dos municípios, porém, seguem mal em ensino; índice da ONU também avalia renda e expectativa de vida

DE BRASÍLIA

O Índice de Desenvolvimento Humano dos municípios brasileiros subiu 47,5% em duas décadas --saindo do nível "muito baixo" para outro considerado "alto".

A melhoria das cidades ocorreu tanto em renda da população como em longevidade e educação. Os três quesitos são a base do IDHM --uma versão local do IDH utilizado pela ONU em avaliações de desenvolvimento social em países do mundo.

Mesmo sendo a área que mais evoluiu, a educação ainda é a única que alcança só um nível "médio" --que rebaixa a nota dos municípios.

As conclusões fazem parte do Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil 2013. A pesquisa da ONU é feita com ajuda do Ipea (instituto ligado à Presidência da República) e da Fundação João Pinheiro, do governo mineiro.

Os dados foram calculados com os Censos de 1991, 2000 e 2010 --não captam, portanto, a gestão Dilma Rousseff.

Um dado emblemático do novo cenário é a quantidade de municípios de IDHM "muito baixo". Em 1991, eram 85,8%. Em 2010, só 0,6%.

O índice repete um modelo do IDH mundial ao usar os três indicadores sociais, que variam de 0 (pior) a 1 (melhor). No entanto, as variáveis globais e locais de cada categoria são diferentes, impedindo que sejam comparados.

O IDHM brasileiro, de acordo com os atuais critérios, era de 0,493 em 1991 --próximo do teto da classificação "muito baixo", que é 0,499.

Após quase dez anos, subiu 24,1% e chegou sob FHC a 0,612 --ou "médio", segundo a escala estabelecida.

Na década seguinte, dominada pelo governo Lula, continuou crescendo (18,7%) e alcançou em 2010 a marca de 0,727 --quebrando a barreira de 0,700, a partir da qual o IDHM é tido como "alto".

O quesito social que mais chega perto da nota máxima de 1 é longevidade (expectativa de vida ao nascer).

Seu índice é de 0,816. Ele foi beneficiado pela queda da mortalidade infantil --de 47% entre 2000 e 2010.

Em seguida está a renda (mensal per capita), com 0,739. Já educação tem 0,637.

Quase 30% das cidades brasileiras têm nota considerada "muito baixa" em educação. E só cinco têm índice considerado "muito alto".

Segundo Marcelo Neri, presidente do Ipea, programas de transferência de renda não tiveram tanto peso no IDHM. "O Bolsa Família é um coadjuvante." O Atlas, para ele, mostra que "a evolução é extraordinária, mas os indicadores ainda são muito ruins".

O ministro da Educação, Aloizio Mercadante, disse que a prioridade deve ser "diminuir a desigualdade regional".


Norte e Nordeste têm maior avanço; SP é 6ª entre capitais
Alavancada por parque e turismo, Mateiros (TO) lidera ranking de melhora
São Caetano (SP), Águas de São Pedro (SP) e Florianópolis (SC) estão no topo do ranking desde 2000

DE BRASÍLIA DE SÃO PAULO COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

As cidades que mais melhoraram seu IDHM estão no Norte e no Nordeste -regiões que também apresentaram reduções nas disparidades com Sul e Sudeste.

Mas as que dominam a liderança do ranking de desenvolvimento ainda são as mesmas desde 2000: em primeiro, São Caetano do Sul (SP), com 0,862; em segundo, Águas de São Pedro (SP), com 0,854; em terceiro, Florianópolis (SC), com 0,847, a capital mais bem colocada.

E as três piores seguem no Norte e Nordeste: Melgaço (PA), com 0,418, Fernando Falcão (MA), 0,443, e Atalaia do Norte (AM), com 0,450.

O ranking de melhora nominal é liderado, entre 2000 e 2010, pela cidade de Mateiros, no leste do Tocantins, que saiu de 0,281 para 0,607.

A 241 km de Palmas, ela tem 2.223 habitantes, é acessível somente por estrada de terra e foi impulsionada pelo crescimento do turismo e da agricultura extensiva.

Trata-se do principal destino dos turistas que vão para a região de dunas e cachoeiras que ficou conhecida após a criação, em 2001, do Parque Estadual do Jalapão.

A cidade teve avanços significativos na educação. Em 2000, apenas 34,6% das crianças de 5 a 6 anos frequentavam a escola. Dez anos depois, eram 75,6%.

O prefeito Júlio Mokfa (PR), que iniciou este ano seu primeiro mandato, atribui esses números à abertura de escolas municipais na zona rural.

O gerente do parque do Jalapão, João Miranda de Sousa, afirma que a melhora nos níveis educacionais do município está intimamente ligada ao turismo.

"As pessoas começam a querer aprender até outras línguas, por causa da vinda de estrangeiros", afirma.

Na comparação proporcional, Aroeiras do Itaim (PI) teve a maior melhora no IDHM: 149,5%, de 0,208 para 0,519.

SÃO PAULO

Entre capitais, São Paulo é a 6ª, empatada com Porto Alegre, com 0,805 --índice "muito alto". Perde para Florianópolis, Vitória, Brasília, Curitiba e Belo Horizonte.

Seu índice de educação é "alto". O de longevidade, "muito alto", com expectativa de vida ao nascer de 76,3 anos. O de renda é "muito alto", com uma renda mensal per capita de R$ 1.516,21.

Ribeirão Branco, município de 18 mil habitantes a 295 km da capital paulista, teve o pior IDHM (0,639) e a pior renda per capita (R$ 318,44) do Estado de São Paulo.

A economia baseada na agricultura familiar e as dívidas dos produtores explicam, em parte, a posição. A prefeitura também alega ter dívidas previdenciárias que comprometem a capacidade de investimento.


A pior
Barco é o único meio para chegar até Melgaço (PA)

DE SÃO PAULO

Para chegar até Melgaço, município de 24.808 habitantes no norte do Pará, o único transporte possível é o barco. A viagem de Belém até o local, que fica no arquipélago do Marajó, ocorre uma vez por dia e chega a levar 16 horas.
Para o prefeito, Adiel Moura (PP), que diz ter sido "pego de surpresa" pelo índice, o problema é a falta de recursos. "Não tem nada por perto", diz ele, que administra o município com o menor IDHM do país, 0,418.
Segundo ele, o município não tem arrecadação própria e depende de repasses.
Hoje, a população tem na pesca, no açaí e na farinha de mandioca os principais meios de sustento. Parte da renda também vem do programa Bolsa Família.
Só 6,89% dos jovens de 15 a 17 anos completaram o ensino fundamental e mais da metade da população vive na zona rural do município, que ocupa área de 6.774 km² --o equivalente a quase cinco cidades de São Paulo.

A melhor
Líder, São Caetano enfrenta onda de verticalização

DE BRASÍLIA DE SÃO PAULO

Líder no ranking das cidades mais bem posicionadas no IDHM, posição que mantém desde 2000, São Caetano do Sul, no ABC, deve seu crescimento à indústria automobilística.
Essa vocação industrial alavanca indicadores como a renda per capita média, que cresceu 84,53% nas últimas duas décadas, mas também traz as "dores do crescimento".
O prefeito, Paulo Pinheiro (PMDB), aponta o aumento da população e a verticalização como os principais desafios a ser enfrentados.
O segundo lugar no ranking também é ocupado por uma cidade paulista. Águas de São Pedro, a 184 km de SP, é voltada para o turismo e, assim como São Caetano, conserva o posto desde o levantamento anterior.
Dentre as cem cidades mais bem posicionadas, 55 são paulistas. São Paulo é o Estado com o melhor IDHM geral (0,783) e só perde para o Distrito Federal.


FSP, 30/07/2013, Cotidiano, p. C1 e C7

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidiano/121449-idh-das-cidades-melhora-mas-educacao-e-entrave.shtml

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidiano/121451-norte-e-nordeste-tem-maior-avanco-sp-e-6-entre-capitais.shtml

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidiano/121452-barco-e-o-unico-meio-para-chegar-ate-melgaco-pa.shtml

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidiano/121450-lider-sao-caetano-enfrenta-onda-de-verticalizacao.shtml
Desenvolvimento Humano:Pobreza

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