Falta de infraestrutura prejudica o ecoturismo

Valor Econômico, Caderno Especial, p. F3 - 09/10/2014
Falta de infraestrutura prejudica o ecoturismo

Por Liana Melo | Para o Valor, do Rio

Enquanto o encontro das águas do rio Negro com o Solimões é um dos roteiros turísticos mais procurados por quem desembarca no Aeroporto Internacional de Manaus, as ilhas Mosqueiro e Cotijuba e as praias à margem do Tapajós, como Alter-do-Chão e Soure, são as vedetes do Pará. Juntos, Manaus e Belém são as principais portas de entrada do turismo sustentável no país.
A visita a esses roteiros faz o turista voltar para casa levando na bagagem mais do que lembranças e fotos exuberantes. Eles retornam com conhecimentos sobre diversidade biológica e informações acerca do consumo consciente e da preservação da natureza. Em troca, deixam recursos nos caixas das prefeituras. Nos dois Estados da região Norte, o turismo sustentável responde por cerca de 40% da receita oriunda dessa indústria. Por ser o país mais biodiverso do mundo, o Brasil tem a melhor pontuação entre as nações no que tange aos recursos naturais, segundo o "Relatório de Competitividade em Viagem e Turismo", divulgado, em Davos, na última reunião do Fórum Econômico Mundial. Devido à falta de competitividade no câmbio e à infraestrutura precária, ocupa, no entanto, a 51ª posição no ranking global, de um total de 140 países.
A Estação Ecológica Mamirauá, no Amazonas, é considerada um dos raros roteiros sustentáveis que combina geração de emprego e de renda para as comunidades do território e preservação da fauna e flora locais. "Não existe outro exemplo no país que desenvolva tão bem um turismo sustentável com base comunitária", avalia Anna Carolina Lobo, coordenadora do Programa Mata Atlântica, do Fundo Mundial para a Natureza (WWF, na sigla em inglês).
Carolina é especializada em gestão e desenvolvimento de projetos de ecoturismo. Tendo sido a primeira reserva de desenvolvimento sustentável implantada no país, em 1990, é, atualmente, a maior reserva florestal do Brasil dedicada exclusivamente à proteção da várzea amazônica. Mamirauá está localizada 600 quilômetros a oeste de Manaus, na região do médio Solimões. Sua área abrange 1,2 milhão de hectares.
O manejo dos recursos naturais locais gerou, entre 2001 e 2012, R$ 600 mil de renda para os manejadores florestais. Mais de R$ 1,5 milhão foi a geração de receita para a população local que trabalha na Pousada Uacari, dentro da reserva, no período entre 1998 e 2012. Outros R$ 8 milhões saíram da pesca manejada de pirarucu, que aumentou seu estoque natural em mais de 447% em pouco mais de uma década. Para Carolina, a reserva Mamirauá é o que mais se assemelha no Brasil à "bem-sucedida" experiência da Namíbia, onde o turismo responde por 18% do PIB, perdendo apenas para a mineração e a agricultura.
As unidades de conservação aumentaram de 17% para 40% nos últimos dez anos. Só no ano passado, o país africano, que tem um território menor que o Mato Grosso, recebeu 1,2 milhão de turistas.
No Amazonas, a receita gerada pelos turistas que visitam o Lago Janauari não ajuda a reduzir as disparidades locais. A comunidade de Janauarilândia sofre no período das cheias com a inundação da estrada. A população costuma ficar isolada. Dos R$ 344,9 milhões gerados pela indústria de turismo no Amazonas, a receita do ecoturismo no Estado foi de R$ 127,6 milhões, segundo a presidente da Empresa Estadual de Turismo (Amazonastur), Oreni Braga.
A Copa do Mundo foi fundamental para impactar positivamente o setor. "Foi uma importante vitrine para o Estado, porque expôs ao mundo que conhecer a floresta é seguro". No Pará o turismo de natureza gerou receitas de R$ 235 milhões.
Mais da metade dos visitantes que chegam ao Aeroporto Internacional de Manaus - Eduardo Gomes é de turistas domésticos (56,7%), enquanto os estrangeiros somam 33%. Os Estados emissores são Rio de Janeiro, São Paulo, Maranhão e Minas Gerais. Os europeus, seguidos dos sulamericanos, lideram as estatísticas de estrangeiros no Pará. Os europeus representam 55,31% dos visitantes que chegam a Belém. Franceses lideram, com 26,41% do total, à frente dos alemães, com 18,94%.

Valor Econômico, 09/10/2014, Caderno Especial, p. F3

http://www.valor.com.br/agro/3727734/falta-de-infraestrutura-prejudica-o-ecoturismo
Amazônia:Políticas de Desenvolvimento Regional

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