Estudo atesta efetividade de áreas marinhas protegidas

Conservation International do Brasil - www.conservacao.org - 03/07/2008
Após cinco anos de investigação sobre os efeitos das áreas marinhas protegidas nas comunidades de peixes na região de Abrolhos, cientistas constataram o incremento na quantidade de espécies comercialmente importantes em áreas de proteção total. A descoberta foi apresentada recentemente na revista científica Aquatic Conservation: Marine and Freshwater Ecosystems e representa o primeiro trabalho científico brasileiro avaliando a efetividade de áreas marinhas protegidas em longo prazo.

Entre os anos de 2001 e 2005, o professor da Universidade Estadual da Paraíba, Ronaldo Francini Filho, e o biólogo da Conservação Internacional, Rodrigo Moura, avaliaram zonas de proteção total e de uso-múltiplo e áreas desprotegidas no Banco dos Abrolhos, no sul da Bahia, região que concentra os maiores recifes do Atlântico Sul. Durante a pesquisa foram monitoradas, através de censos visuais subaquáticos, 90 espécies de peixes associadas aos recifes coralíneos de Abrolhos.

Os pesquisadores constataram maior abundância de espécies economicamente importantes, como o budião-azul, o badejo-quadrado e a guaiúba, tanto na área de proteção integral do Parque Nacional Marinho de Abrolhos quanto em zona integralmente protegida dentro da Reserva Extrativista do Corumbau, na qual os próprios pescadores abriram mão de uma área de pesca com o objetivo de recuperar os estoques. Além disso, foram encontradas evidências de que a sustentabilidade da pesca em áreas costeiras depende de recifes profundos e afastados da costa, onde os estoques pesqueiros são menos explorados. Segundo Moura, "apesar de sua importância, os recifes profundos ainda são pouco conhecidos pela ciência, mas vêm sendo crescentemente explorados por barcos pesqueiros cada vez maiores e mais bem equipados, originários de outras regiões da costa brasileira".

Apesar dos efeitos positivos das áreas de proteção, foram encontrados sintomas de degradação do ecossistema recifal, causados pela pesca exagerada e pela ocupação desordenada da zona costeira. Por exemplo, alguns recifes apresentaram alta cobertura de algas e baixa presença de corais, uma provável conseqüência da exploração de peixes que consomem algas, como os budiões. Francini-Filho explica que "os corais fornecem abrigo essencial para a sobrevivência dos peixes, representando assim um grupo crítico para a manutenção dos estoques dos peixes de recifes". Para Moura, um dos maiores problemas continua sendo a infra-estrutura precária de fiscalização e a falta de comprometimento com a proteção integral em longo prazo. "Além disso, os monitoramentos de longo prazo ainda são insuficientes, apesar de representarem uma ferramenta essencial para a gestão das áreas protegidas e seus entornos", completa.

Estas questões e outros desafios para a conservação dos recifes coralíneos serão discutidos por pesquisadores de todo o mundo em um simpósio internacional que será realizado de 7 a 11 de julho na Flórida, EUA. Para mais informações sobre o evento, acesse http://www.nova.edu/ncri/11icrs/.

O resumo do artigo "Dynamics of fish assemblages on coral reefs subjected to different management regimes in the Abrolhos Bank, Eastern Brazil" está disponível em http://www3.interscience.wiley.com/journal/119816535/abstract

Informações complementares

Áreas Marinhas Protegidas: As áreas protegidas são definidas como uma superfície de terra ou mar especialmente consagrada à proteção e preservação da diversidade biológica, assim como dos recursos naturais e culturais associados, e gerenciada através de meios legais ou outros meios eficazes. Áreas protegidas no meio marinho têm como objetivos principais a conservação da biodiversidade e a manutenção da pesca em áreas adjacentes. Elas contribuem ainda para a investigação científica de comunidades intocadas pelo homem e para o turismo ecológico.

Banco dos Abrolhos - é um alargamento da plataforma continental que começa próximo à foz do rio Doce, no Espírito Santo, e segue até a foz do Rio Jequitinhonha na Bahia. Com cerca de 46.000 km2, compreende um mosaico de ambientes marinhos e costeiros margeados por remanescentes da Mata Atlântica, abrangendo recifes de coral, bancos de algas, manguezais, praias e restingas. Berçário das baleias-jubarte, a região dos Abrolhos foi declarada, em 2002, área de Extrema Importância Biológica pelo Ministério do Meio Ambiente.

Fontes
Rodrigo Leão de Moura
Autor - Conservação Internacional, Programa Marinho
Contato: (73) 8842-2724

Ronaldo Francini-Filho
Autor - Universidade Estadual da Paraíba
Contato: (73) 8812-2066
UC:Parque

Unidades de Conservação relacionadas

  • UC Marinho dos Abrolhos
  • UC Marinha do Corumbau
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