A natureza ouro do Jalapão

Terra da Gente - http://eptv.globo.com - 03/12/2010
Se você anota numa lista os lugares mais bonitos que conhece no Brasil, pode acrescentar mais um nessa relação. Neste sábado (04), a equipe do programa Terra da Gente viaja para o Jalapão, na região leste do estado de Tocantins - um lugar especial onde homem e natureza se encontram. Poucos lugares no país reúnem belos cenários e tradição popular como o Parque Estadual do Jalapão. A região fica numa área de transição dos biomas de Caatinga e Cerrado. As transformações no meio ambiente começaram há milhares de anos e até hoje, muda todos os dias. Para se manter em constante atividade, a natureza no Jalapão é cheia de truques: as dunas têm uma cor especial. O artesanato de capim dourado do Jalapão tem fama internacional. Sustenta muitas famílias, mas é só um dos tesouros das comunidades.

Portal do Jalapão

Uma terra de contrastes que mistura formas, cores e paisagens. O Parque Estadual do Jalapão é assim, tem um pouco de tudo. A unidade de conservação ambiental fica a leste do estado do Tocantins e ocupa uma área de 34 mil quilômetros quadrados, abrangendo oito municípios: Ponte Alta do Tocantins, Mateiros, São Felix do Tocantins, Novo Acordo, Santa Tereza do Tocantins, Lagoa do Tocantins, Rio Sono e Lizarda.

Nossa equipe está na região de Ponte Alta do Tocantins, portal do Jalapão e passaporte de aventuras numa outra dimensão, apesar de parecer que o homem quer atrapalhar. O que impera é a grandeza do Jalapão. São centenas de elevações e chapadas. Os pesquisadores explicam que, durante as lentas movimentações nos ciclos geológicos, por causa dos vários recuos e avanços do mar, a erosão desgastou a superfície gerando serras e planaltos.

O que hoje é terra já foi fundo de oceano há 350 milhões de anos. Boa parte dos morros do Jalapão tem uma característica única: a rocha é quase 100% arenito, um mineral extremamente frágil.

Erosão do tempo

O Morro da Cruz é outra atração. Ele possui três buracos, culpa da erosão. Uma das "imperfeições" tem cerca de 10 metros e está em constante mudança por causa dos ventos.

Mas por esses lados não é apenas o vento que muda a paisagem. As águas também alteram formas. Nossos aventureiros conhecem a Cachoeira do Soninho que, de tranquilidade, apenas o nome. Mais adiante, a Estação Ecológica Serra Geral, que também fica no território do Jalapão.

Porém, o acesso ao parque é restrito, somente pesquisadores entram. A área foi criada pra preservar espécies do Cerrado. São 176 mil hectares, o que equivale a 176 mil campos de futebol de pura conservação e belezas naturais. É nessa área que fica a cachoeira da fumaça. Quinze metros de largura e vinte e um de altura.

Cerrado e Caatinga

A jornada é longa para se chegar ao Jalapão, no Tocantins. Estamos em plena área de transição de dois biomas, entre o Cerrado e a Caatinga. O que predomina é uma vegetação rasteira similar às savanas. A vida se revela nas cachoeiras, nos rios, nas grandes praias de água doce e formações rochosas de cores e formas variadas.

Nossa equipe segue viagem com o objetivo de subir 500 metros de pura pedra. O objetivo: chegar ao mirante da Serra do Espírito Santo para ver as dunas. São 5 horas da manha, horário ideal de começar a subida porque, com o passar do tempo, o clima esquenta e fica difícil andar.

Depois de acompanhar o nascer do sol, mais caminhada, e o processo de desgaste natural nos paredões fica bem nítido. As fissuras na encosta revelam a areia com grande quantidade de quartzo.

As dunas, ao fundo, são uma espécie de depósito de tudo que se desprende da serra. Do alto é possível ter uma idéia mais completa da grandeza do banco de areia.

Convite das águas

Mais conhecida como Lajeado, a rocha de cor avermelhada forma degraus.
Descer até o poço não leva mais que cinco minutos. Lá em baixo, uma piscina de água mineral, com hidromassagem natural, combina bem com o calor de 42 graus.

Outra opção são as águas cristalinas dos aquários naturais. Por esses lados, a água das chuvas penetra facilmente no solo arenoso e forma grandes aquíferos subterrâneos - os fervedouros - formados pela água que brota da areia no fundo do aquário.

Carlos dos Reis, da Câmara de Turismo de São Felix, explica que o fervedouro distribui água para três bacias: a do rio São Francisco, Bacia do Rio Parnaiba e Bacia do Tocantins. A pressão da água que sai do solo empurra quem tenta mergulhar. A sensação é de estar flutuando.

Tem também lugar só para admirar. A mais famosa da região é a Cachoeira da Velha. A única no Jalapão com estrutura pronta pra receber turistas. Se não é a maior, com certeza impõe respeito pelo volume da queda. Não tem nem como tentar um banho.

Desbravar as areias

De volta pra estrada, a trilha agora nos leva até a parte mais alta das dunas. Quem caminha pelo deserto sempre sonha com um pouco de água, como nas miragens. Mas aqui oásis não é mentira. Ele realmente existe e quem está cansado pode parar para beber água mineral.

Depois de chegar ao topo do morro de areias, hora de observar um pôr-do-sol impressionante. Com o fim da tarde, a areia já está fria: um convite para se acomodar no chão e registrar tudo na memória.

Capim de ouro

Com tanta beleza, felizes são os nativos, guardiães desses recursos naturais. É com sabedoria e criatividade que eles exploram os recursos da terra sem agredir o meio ambiente. E o esforço de preservação dá resultados.

As maravilhas do Jalapão não são encontradas só nas cachoeiras, dunas e nem encravada nas rochas. Nasce nas veredas e pode parecer um simples capim, mas para o povo que vive nessa terra é bem mais do que isso. O capim dourado é exclusivo dessa região e vale tanto quanto o mais precioso dos metais.

A colheita acontece uma vez por ano nos meses de setembro e outubro. Na hora da colheita, uma sementinha é deixada no lugar para que no ano seguinte o capim esteja garantido. O que era capim vira de tudo nas mãos habilidosas.

A lojinha fica na comunidade mesmo e é dalí que sai o sustento das famílias da região. Com o capim, a história de muita gente do povoado mudou. E para melhor. É a alegria de viver com dignidade. As técnicas são passadas de mãe para filha, o artesanato virou questão de tradição.

Próximo à cidade de São Félix do Tocantins, nossa equipe faz uma pausa no povoado do Prata. Ali, também uma comunidade quilombola, a produção sai da moenda e vai direto para o tacho. São duas horas sem parar até que a rapadura fique no ponto.

Seo Miúdo é outro. Ele é um artista que nunca abandonou as raízes. Aprendeu com o cunhado a fazer um instrumento único dessa gente, a rabeca de buriti. Mas ele não fica só na fabricação da peça, não. Além de fazer o instrumento, ele toca e canta também.

E foi ao som da rabeca que deixamos o Jalapão. O aprendizado foi grande, encontramos um Brasil que não se vê em outro lugar do país. O desafio é dar continuidade nessa cultura autêntica, popular. Enquanto isso, a natureza faz a parte dela e os ventos continuarão soprando forte, esculpindo formas...


http://eptv.globo.com/emissoras/NOT,0,0,326261,A+natureza+ouro+do+Jalapao.aspx
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