Contabilizados prejuízos aos estudos em áreas de preservação após incêndios

Correio Braziliense - www.correiobraziliense.com.br - 27/09/2010
Pesquisadores da Universidade de Brasília (UnB) estão preocupados com os prejuízos que os últimos incêndios podem ter causado às pesquisas nos parques de preservação ambiental. Estudos ligados à fauna e à flora do cerrado e diagnósticos sobre a adaptação e a extinção de determinadas espécies animais e vegetais podem sofrer danos devido à perda de amostras analisadas dentro dos parques. Nesta semana, especialistas que atuam na Estação Ecológica de Águas Emendadas, no Parque Nacional de Brasília e no Parque Nacional das Emas avaliarão o impacto que o fogo pode ter causado às pesquisas e principalmente aos animais.

O morceguinho-do-cerrado está ameaçado de extinção. De grande importância para a flora por ser um morcego polinizador de flores, esse mamífero vem sendo monitorado pela equipe da professora Ludmilla Moura Aguiar, especialista há mais de 20 anos nos estudos dos Chiropteras (ordem dos morcegos) nos parques de Águas Emendadas, Nacional de Brasília e das Emas, os que mais sofreram com as últimas queimadas. "Esses animais não têm facilidade para se afastar do fogo e correm sérios riscos em incêndios com as proporções vistas. Se houver redução no número de indivíduos, nossa pesquisa sofre atraso. Precisaremos deixar de lado o foco principal da pesquisa - que busca entender a contribuição desses mamíferos nas polinizações - para medir o impacto do incêndio", comenta.

A professora explica que, por serem financiados, os projetos precisam ser reprogramados e justificados para as instituições de incentivo. "É um processo que dificulta a qualidade de pesquisas importantes para a preservação de espécies vegetais e animais em risco. Tudo devido aos focos de incêndio descontrolados, em sua maioria, provocados pela irresponsabilidade ou por criminosos", comenta.

O biólogo e pesquisador Pedro de Paula Emerich esteve na última sexta-feira na Estação Ecológica de Águas Emendadas para verificar se as áreas de análise em que trabalha foram atingidas pelo fogo. O projeto de Emerich busca compreender o comportamento de moscas do gênero Drosophilas - pequenos insetos encontrados geralmente sobre comida em decomposição - em diferentes ambientes. "Nosso grupo de pesquisa está comparando, a longo prazo, que características são comuns nessa espécie em ambiente de plantio e na mata, avaliando inclusive como isso se dá sobre a ação do homem", explica.

Parte da área que o pesquisador vinha estudando foi destruída pelo último incêndio na reserva. Mas o maior prejuízo é a instabilidade causada ao ambiente desses animais. "Em contato com o fogo, vários espécimes não sobrevivem. Ocorre também uma redução dos recursos alimentícios. Em uma próxima coleta de amostra, é possível que ocorra redução considerável no número de moscas a serem avaliadas, o que pode influenciar nos resultados na pesquisa geral", afirma Emerich.

Os engenheiros florestais Miguel Marinho Vieira e Daniel Costa Carneiro também conferiram as consequências do fogo para seus estudos na mata do Parque de Águas Emendadas. "Juntos, temos quase 1.880 árvores marcadas sendo monitoradas. Felizmente, o fogo foi detido pelo córrego às margens da mata", comenta Miguel. Para Daniel, a vigilância ainda é necessária. "Cada vez que um novo foco de incêndio for iniciado, será mais forte e mais rápido. Ainda é possível que o fogo chegue à área de pesquisa, pelo menos enquanto não passar a estiagem."

Adriani Hass, professora especialista em ecologia de aves, coordena o monitoramento de uma espécie de ave ameaçada de extinção, o bacurau-do-rabo-branco, presente apenas em duas áreas no planeta: no Parque Nacional das Emas, em Goiás, e em uma reserva no Paraguai. "Por mais de um século, essa ave foi vista apenas seis vezes, descrita em relatos científicos. É uma espécie que sofre diretamente com a ação das queimadas porque se abriga no meio do capim alto, característico do Parque das Emas", explica. O estudo da professora busca compreender e facilitar a permanência da espécie que já tem identificada mais de 4 mil indivíduos no Parque das Emas. Além disso, o estudo procura soluções que distribuam melhor as comunidades da ave por outras áreas de preservação.

Com a queima de 90% da área de preservação em dois dias de incêndio, Adriani afirma que os espécimes do Parque das Emas correm mais risco e a pesquisa, que pretende evitar seu desaparecimento, fica comprometida. "Não podemos entrar no parque ainda para avaliar o impacto do fogo. Assim que possível, vamos retomar as amostragens. E acima de tudo, espero que as aves não tenham sofrido com a queima do espaço", comenta a pesquisadora.

Seca
Até o momento, 24 unidades de conservação do país, a maioria no cerrado, têm focos de calor. Brasília completou, no sábado passado, 121 dias sem chuva. A estiagem ajudam a espalhar fogos iniciados fora das áreas protegidas, para limpeza de pastos e lavouras, por exemplo. Em 20 de janeiro, o governador do Distrito Federal, Rogério Rosso, decretou situação de emergência na capital federal, devido aos grandes incêndios e à baixa umidade relativa do ar. A medida vale até 21 de novembro.


FOGO EM SANTA MARIA
O Corpo de Bombeiros lutava, até o fechamento desta edição, para conter um incêndio de grandes proporções em um terreno da Marinha, em Santa Maria. A queimada é próxima à DF-001. Segundo informações do Ciade, o combate ao fogo começou às 11h20. Cerca de 30 homens tentavam debelar as chamas.

http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia182/2010/09/27/cidades,i=214961/CONTABILIZADOS+PREJUIZOS+AOS+ESTUDOS+EM+AREAS+DE+PRESERVACAO+APOS+INCENDIOS.shtml
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