Cervos são estudados com alta tecnologia

OESP, Vida, p. A16 - 11/07/2007
Cervos são estudados com alta tecnologia
Animais desalojados por hidrelétrica são monitorados a distância em SP

Brás Henrique
Luís Antônio

Os cervos-do-pantanal, reintroduzidos em área de várzea, seu hábitat, estão sendo monitorados por pesquisadores da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Jaboticabal. Por brincos e colares transmissores de dados e, desde a última semana, por câmeras, nove animais que estão em Luís Antônio, na região de Ribeirão Preto, são acompanhados diariamente pelos pesquisadores. Eles analisam o desenvolvimento e as características de até 20 animais que se encontram numa várzea de 2,2 mil hectares, em área privada, ao lado da Estação Ecológica Jataí.

O trabalho de instalação dos equipamentos, no entanto, é uma operação minuciosa e delicada, que envolve mais de 20 pessoas.

A reintrodução dos cervos-do-pantanal em Luís Antônio, a partir de 1998, foi necessária por causa da inundação da área próxima ao Rio Paraná, onde entrou em operação a Usina Hidrelétrica de Porto Primavera, entre São Paulo e Mato Grosso do Sul. Mais de cem cervos-do-pantanal foram capturados, sendo que oito seguiram para Luís Antônio (cinco em 1998 e três em 2001), às margens do Rio Mogi-Guaçu, e seis (todos já mortos, pois a área não era adequada) para Colômbia, ao lado do Rio Velho. Os demais foram para cativeiros de 14 instituições. "Esses animais são solitários, tímidos e difíceis de serem visualizados", diz o coordenador do projeto, integrante do Núcleo de Pesquisa e Conservação de Cervídeos (Nupecce), José Maurício Barbanti Duarte.

O uso de brincos transmissores é prática comum desde o início da pesquisa, que era financiada pela Companhia Energética de São Paulo (Cesp), com investimento de cerca de R$ 1,5 milhão até 2002. Desde 2006, o projeto é financiado pelo Conselho Federal Gestor do Fundo de Defesa dos Direitos Difusos (CFDD), do Ministério da Justiça, que está aplicando cerca de R$ 300 mil. A operação realizada há uma semana consumiu cerca de R$ 50 mil e instalou duas câmeras entre os chifres de dois cervos machos.

JEITO DE PEÃO

A captura desses animais é uma tarefa complicada. Como vivem em várzea, é necessário usar um helicóptero para sobrevoar a área. O piloto Nilo Gabriel já conhece o serviço e persegue o animal, que é monitorado por GPS. Ao chegar perto, Duarte lança uma rede para imobilizar o cervo. Quando isso não dá certo, o jeito é virar "peão", pular sobre o bicho e dominá-lo. No chão, dois homens seguram o animal, enquanto uma terceira pessoa coleta materiais: fezes, sangue, pêlos e carrapatos, além de fazer a biometria (medir o corpo). Isso requer várias viagens e também reabastecimento do helicóptero ao lado da várzea, onde está a equipe de retaguarda, inclusive buscando a localização exata dos animais por GPS.

A instalação da câmera é mais demorada, pois o cervo tem de ser anestesiado para que os pesquisadores e técnicos furem os chifres. Depois, um equipamento envolvido por PVC com câmera e bateria internas pesando 600 gramas, desenvolvido no Departamento de Circuitos Elétricos da Universidade Federal de Juiz de Fora, é acoplado entre os chifres. A câmera funciona no sistema liga-desliga, pois a bateria dura até 30 horas, dependendo da luminosidade.

Outro desafio, porém, é ligar e desligar a câmera. Para acionar o dispositivo, é preciso que a pessoa esteja a até 200 metros de distância do animal (que também tem um brinco de localização). No primeiro cervo, quatro minutos foram gravados, mas os pesquisadores não sabem se conseguiram desligar a câmera. "A dificuldade da tecnologia é acionar e receber as imagens no notebook. Para a próxima captura, em 2008, os técnicos deverão usar a transmissão por telefone celular", diz Duarte. Seria o mesmo sistema pelo qual um dos colares emitiu informações (a cada 15 minutos, durante quatro meses) para a Suécia, aos pesquisadores de lá que participam do projeto.

Outra dúvida é sobre o chifre do bicho, pois ninguém sabe quando cairá para a troca natural. Duarte destaca que, com as imagens, será possível conhecer mais o cervo. "Não sabemos o que ele come, quando acorda ou dorme, como e quando se desloca, se interage com outras espécies", explica. Ele lembra que esse é um projeto piloto para preservar a várzea no Estado de São Paulo. "O cervo-do-pantanal é um animal bandeira. Se ele está preservado, a várzea também está", diz a bióloga Tatiane Takahashi Nunes, uma das responsáveis pela educação ambiental em escolas municipais de Luís Antônio.

OESP, 11/07/2007, Vida, p. A16
Energia:UHE Nordeste-Sudeste-Sul-Centro Oeste

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