Hilton tera resort as margens do rio Negro

GM, Saneamento & Meio Ambiente, p.A11 - 29/01/2004
Hilton terá resort às margens do rio Negro
Empreendimento de R$ 35 milhões pretende ser um dos melhores do mundo e beneficiar comunidades amazônicas. O Igarapé do Tiririca, na margem direita do rio Negro, no Amazonas, é um destino de ecoturismo ainda pouco conhecido. Mas é nessa região, localizada no município de Novo Airão, a 180 km de Manaus, que a rede hoteleira Hilton deverá instalar o seu primeiro resort de selva no Brasil, o Hilton Amazon Eco Lodge. O empreendimento é fruto de uma parceria da rede hoteleira com as empresas MBC Consultoria Hoteleira e CMMC Empreendimentos e Participações, responsáveis pelo desenvolvimento do projeto.
O hotel terá 196 quartos e deverá ocupar um terreno de 200 hectares, sendo previstos 12 hectares de área construída. O investimento previsto é da ordem de R$ 35 milhões, a cargo de um grupo de investidores dos estados de São Paulo e Amazonas. A rede Hilton ficará encarregada das operações de gerenciamento, comercial, recrutamento e treinamento de funcionários, de acordo com os padrões internacionais praticados pela rede. A gestão financeira será entregue a uma ONG internacional, que ainda não foi escolhida. Entre os critérios que pesarão na escolha estão ter know-how e credibilidade internacionais. "Será o primeiro empreendimento de grande porte e visibilidade na região amazônica", diz Paulo Meira, diretor de desenvolvimento hoteleiro da MBC Consultoria.
A localização é estratégica e favorece a proposta do empreendimento de desenvolver, de forma sustentável, o ecoturismo de alto padrão na região. Em área de proteção ambiental (APA), o hotel terá como atrativos a exuberância de paisagens como o Parque Nacional do Jaú, com 23 mil km² de área de floresta tropical, o Arquipélago das Anavilhanas, formado por cerca de 400 ilhas e considerado o maior arquipélago fluvial do planeta, o Parque Estadual do Rio Negro e a reserva indígena Waimiri-Atroari, com uma população de 270 pessoas. Os passeios pelas águas escuras do rio Negro ainda têm a vantagem da não proliferação de mosquitos, pois a acidez das águas (PH 4,2) dificulta sua desova ao longo do curso do rio.
O público-alvo do Hilton Amazon Eco Lodge será preferencialmente o hóspede de alto padrão, de origem estrangeira, com predominância de europeus e norte-americanos. As diárias deverão custar em torno de R$ 350, com pensão completa e translados. A construção de um heliporto, que será homologado pelo Departamento de Aviação Civil (DAC), não constava do projeto original, mas foi uma exigência da cadeia hoteleira para o conforto dos hóspedes e segurança em situações emergenciais.
Reserva de proteção
Além do alto padrão, o empreendimento terá como diferencial a destinação de recursos para uma Reserva Particular de Proteção Natural (RPPN) a ser criada nos arredores do hotel, em uma área de 18 mil hectares. Será construído no local um laboratório para pesquisas que funcionará como um centro de estudos nas áreas de biologia e ecologia. À manutenção e policiamento da reserva serão destinados R$ 2 de cada pernoite, além de 1% do lucro do hotel.
A proposta de ecoturismo sustentável inclui a geração de empregos nas duas comunidades ribeirinhas próximas ao hotel. Ali vivem em torno de 100 pessoas, cuja economia é baseada na pesca, na agricultura de subsistência da mandioca e no artesanato com madeira. A intenção é treinar e inserir parte dessa população nos cerca de 120 postos de trabalho diretos que o hotel deverá criar. "Em torno de 80% das vagas serão preenchidas por pessoas da região, que terão melhorias em suas condições de vida, sem modificar a cultura local", diz Meira.
Por se tratar de uma área de preservação permanente - o local escolhido para o empreendimento está dentro da APA Margem Direita do Rio Negro - o hotel terá que cumprir uma série de exigências de caráter ambiental em seu processo de licenciamento e para a manutenção deste. De acordo com o Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (IPAAM), órgão vinculado ao governo do estado, um empreendimento hoteleiro é considerado de pequeno potencial poluidor. O Hilton Amazon foi classificado como empreendimento de médio potencial poluidor, devido ao seu grande porte. "Os empreendedores deverão elaborar um plano de controle ambiental, em conformidade com os termos de referência do órgão ambiental. O cumprimento dos itens é monitorado periodicamente", explica Hermógenes Rabelo, da diretoria técnica do IPAAM.
Os empreendedores estão afinados com as especificações ambientais. Entre elas, o hotel terá captação de águas por poços artesianos e ETE (Estação de Tratamento de Esgotos) própria, com capacidade prevista de 82 m³/dia. O gerenciamento da obra e em especial do sistema de tratamento de efluentes está a cargo da Figueiredo Ferraz Consultoria e Engenharia de Projeto, que fez alterações no projeto original, acrescentando um aquário com peixes no último estágio da ETE. Parte da água tratada será reutilizada na limpeza das dependências e na irrigação das áreas verdes.
O hotel terá ainda uma política de correta destinação dos resíduos sólidos e sistemas automatizados para economia de água e energia elétrica. "Em termos ambientais, queremos fazer mais do que pedem as exigências da legislação", diz Meira. A licença de instalação foi expedida em julho do ano passado e as obras do empreendimento devem começar no mês de março, no início da estação seca.
Marco brasileiro
De acordo com Meira, o turismo ecológico movimentou US$ 260 bilhões em 2002 ao redor do mundo, e a Amazônia responde por apenas 0,01% desse valor. O Hilton Amazon Eco Lodge satisfaz o interesse da rede Hilton de ser parceira em empreendimentos ligados ao ecoturismo, que tem o Amazonas como alvo principal. "Esse hotel será um marco para o ecoturismo no Brasil, pois vai fortalecer e dar projeção à atividade na região do Amazonas", diz Tom Potter, diretor da rede Hilton para o Mercosul. O objetivo da rede é que o empreendimento esteja entre os cinco melhores eco-resorts do planeta.
O modelo que está sendo desenvolvido não tem similar no mundo, com exceção de um resort de selva da rede Hilton na Malásia, e outros dois lodges de safári no Quênia que, no entanto, foram fechados por motivos políticos. Os elementos para o sucesso desse tipo de empreendimento, na visão de Potter, são a facilidade de acesso à região, a ausência de sobre-oferta, a viabilidade econômica do projeto e o diferencial do turismo sustentado, que traz um marketing positivo para a rede.



GM, 29/01/2004, p. A11
Bacia do Rio Negro

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