Ao lado de Macron, Cacique Raoni faz cobranças a Lula e pede mais demarcações de terra

O Globo - https://oglobo.globo.com/ - 26/03/2024
Ao lado de Macron, Cacique Raoni faz cobranças a Lula e pede mais demarcações de terra
Líder indígena foi homenageado pelo presidente francês nesta terça-feira

Karolini Bandeira
Luis Felipe Azevedo

26/03/2024

Homenageado com a Legião de Honra, a mais alta honraria da França, em cerimônia com o presidente Emmanuel Macron e com o presidente Lula nesta terça-feira, o cacique Raoni aproveitou o momento com as autoridades para cobrar do brasileiro agilidade na demarcação de terras e um maior orçamento à Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai).

- Quero pedir novamente que você trabalhe para acabar com o desmatamento, demarcar terras indígenas para as comunidades que não têm terra ainda. Quero pedir que você apoie a Funai e ela tenha orçamento para fazer o trabalho para as comunidades indígenas - apelou.

Raoni também pediu para Lula barrar a construção da ferrovia Ferrogrão, projeto de uma estrada de ferro que pretende ligar as cidades de Sinop (MT) e Miritituba (PA) para o escoamento de grãos.

- Presidente Lula, eu subi com você na rampa e eu quero pedir que vocês não aprovem o projeto de construção da ferrovia Sinop, mais conhecida como Ferrogrão - disse o cacique. O líder indígena é uma das principais vozes de defesa da Amazônia no mundo e reconhecido internacionalmente pela sua luta.

Os pedidos foram feitos durante solenidade em Belém nesta terça-feira. Na ocasião, o presidente francês fez um discurso exaltando a trajetória do cacique na militância pelos direitos dos povos indígenas no Brasil.

- Você se tornou embaixador do seu povo. Você nunca você parou, nunca vai parar. Eu conheço o orgulho do presidente Lula que está ao seu lado. Ele, que pela primeira vez, decidiu nomear um ministro do povo indígena. Me lembro que a Covid não parou você - afirmou.

A Macron, o cacique pediu apoio à presidente da Funai, Joenia Wapichana, e que o francês o ajude a receber o Prêmio Nobel da Paz.

Críticas a Lula

Em outubro do ano passado, em viagem ao Rio de Janeiro, Raoni criticou o presidente brasileiro pela demora do governo em atender às promessas feitas a ele no dia da posse, momentos antes de subir a rampa com o petista.

- Ele está devagar. Não cumpriu o que me prometeu no dia da posse e por isso vou a Brasília bater na porta dele - disse o Cacique Raoni ao GLOBO na ocasião.

Obra apoiada pelo agronegócio

A ferrovia que cortará a floresta amazônica do Pará ao Mato Grosso está listada entre os investimentos previstos no Novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) até 2026.

Representantes do agronegócio argumentam que a construção do ferrogrão vai consolidar, a longo prazo, um corredor logístico capaz de reduzir distâncias, a emissão de gases poluentes e o valor do frete de quem paga para exportar produtos como soja e milho, entre 30% e 40%.

Mas a linha de 933 quilômetros atravessaria mais de 40 terras indígenas e outras áreas de proteção, como a área do Parque Nacional do Jamanxim, no Pará. No ano passado, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, destacou a necessidade de mais estudos para que a obra avance.

- Em um governo que não é negacionista, as coisas são estudadas para que se possa fazer com o devido senso de responsabilidade ou deixar de fazer com o devido senso de responsabilidade - afirmou.

Como noticiou a coluna Lauro Jardim, o líder indígena do povo Kayapó entregou aos presidentes uma sentença do Tribunal Popular realizado por representantes dos povos indígenas, comunidades tradicionais, organizações e movimentos sociais do Pará e Mato Grosso.

O documento assinado por 40 organizações de povos indígenas, tradicionais e movimentos sociais traz cinco argumentos de acusação:

Violação do direito à consulta livre, prévia, informada e de boa-fé;
Estudos falhos e subdimensionamento dos impactos e riscos socioambientais conexos;
Aumento da especulação fundiária, grilagem de terras públicas, desmatamento, queimadas e conflitos fundiários;
Favorecimento indevido dos interesses das empresas transnacionais Cargill, Bunge, Louis Dreyfus e Amaggi.

Apesar da importância da obra alegada pelo agronegócio, o pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Philip Fearnside, afirma que a ferrovia tende a estimular a devastação ambiental.

- A obra vai fomentar o desmatamento pela transformação das terras de pastagens em plantações. Quando a terra se torna mais valiosa para soja do que para gado, os pecuaristas vendem os terrenos, a preço alto, e usam o dinheiro para comprar áreas de floresta barata no Pará ou Amazonas, onde desmatam para pastagens - detalhou.

O GLOBO entrou em contato com o Ministério dos Transportes para solicitar atualizações sobre o licenciamento das obras da ferrovia, mas não teve retorno até a publicação da reportagem.

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