A produção de borracha já manteve por muito tempo a economia da Amazônia, incluindo Santarém e região. No entanto, há décadas a produção vem decaindo e a grande maioria dos seringueiros já abandonou a profissão, que não trazia nenhum retorno. A ação de atravessadores, o abandono por parte de autoridades, o baixo preço da borracha, foram apenas alguns dos fatores que contribuíram para o fracasso da atividade seringueira na região. Depois de décadas, os seringueiros estão voltando aos seringais, graças a um investimento originado de um acordo bilateral entre o Brasil e a Finlândia, que está financiando a produção de borracha na região, principalmente na área da Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns.
Os seringueiros estão animados, a estrutura para produção já ganhou reforços, a expectativa de lucro é muito boa e o atravessador está sendo eliminado do processo produtivo. Milhares de famílias serão diretamente beneficiadas e há uma grande expectativa sobre o número de empregos gerados, direta ou indiretamente. Os benefícios da expansão da produção de borracha já podem ser observados no início dos trabalhos.
O projeto que prevê a volta dos seringueiros à suas atividades, já está em funcionamento e vem obtendo bons resultados, pois os seringueiros estão bastante entusiasmados com a volta de produção da borracha. Somente na região da Resex Tapajós Arapiuns, serão mais de 18 mil pessoas que serão diretamente beneficiadas com a volta do trabalho nos seringais. "Estamos contentes e bastante esperançosos com a volta aos seringais, pois o preço proposto é bom e não tem mais o atravessador", comemora o seringueiro Júlio Rodrigues, um sobrevivente em todos os sentidos, pois sobreviveu ao acidente que vitimou dezenas de sindicalistas em 1986, em Minas Gerais, e sobreviveu também ao descaso com os seringueiros da região.
"O número de pessoas que está trabalhando nos seringais da região triplicou nos últimos dias", constata a presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Santarém, Ivete Lima. O STR é a entidade que coordena o Grupo Gestor do projeto e está acompanhando todas as atividades desenvolvidas até o momento. Ivete afirma que os recursos a serem gerados pela produção da borracha contribuirá para a melhoria de vida de milhares de pessoas em toda a região, e ainda aumentará a circulação de capital no município. Ela ainda elogia o projeto que está sendo desenvolvido, sustentando ser uma experiência única na região. "Os investimentos que estão sendo feitos superam tudo o que foi feito em favor dos seringueiros em mais de 300 anos de história", afirma a sindicalista.
Atravessador retirado do processo
Uma das principais realizações do projeto foi a eliminação da figura do atravessador no processo de produção. Foram criados 20 entrepostos de compra do látex, que estão sendo administrados pelos próprios seringueiros, o que alavancou o preço pago pelo produto diretamente ao produtor. Com o atravessador, o seringueiro recebia cerca de R$ 0,70 por quilo. Com a criação dos entrepostos, o preço saltou para R$ 1,10, mais de 50% de aumento. "Um acordo entre os seringueiros estabeleceu que R$ 0,10 de cada quilo vendido será revertido num caixa da própria comunidade, o que possibilita a melhoria da qualidade da vida social das comunidades", observou Ivete Lima.
O projeto também já comprou um barco, que servirá para o transporte da borracha bruta até Santarém, onde será beneficiada na Usina de Beneficiamento, antiga Acosper - Associação Cooperativa de Seringalistas Pescadores e produtores Rurais -, que estava desativada. Agora, a usina será da Cooperativa de Seringueiros. Ela passou por um processo de modernização e ampliação, podendo beneficiar agora cerca de 50 toneladas de borracha por mês. "A usina contribui para agregar valor ao produto bruto, e também servirá para a geração de emprego e renda, além de contribuir para o pagamento do financiamento", explica o vice-presidente do STR, Raimundo Lima.
(-O Liberal-Belém-PA-05/03/03)
UC:Reserva Extrativista
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