Crianças de comunidades isoladas no AM incentivam conservação da água: 'Brincando é uma maneira de ajudar'

G1 - http://g1.globo.com/ - 12/10/2017
Pequenos líderes que protegem e administram de forma racional o recurso hídrico.



A Região Hidrográfica Amazônica é considerada a maior do mundo em disponibilidade de água doce: 80% do percentual do total disponível no Brasil vem da Amazônia. Apesar do contingente, crianças de várias regiões isoladas do estado enfrentam escassez de água potável em casa, escolas e em postos de saúde, o que se transforma em um entrave para o desenvolvimento infantil no interior do Estado. Essa situação é agravada ainda pela destinação incorreta da água: apenas 10% da região tem forma adequada de saneamento, segundo relatório da Serviços de Água e Esgotos do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS).

Há 575 quilômetros de Manaus, na Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) Piagaçu-Purus, crianças com sorrisos largos, "brincalhonas" e divertidas, aprendem a desenvolver, de forma lúdica, sua cidadania e empoderamento como líderes que protegem e administram aquilo que é mais importante no mundo: a água.

Esses líderes infantis e seus professores comunitários fazem parte do programa global Swarovski Waterschool, a Escola D'água, realizada desde 2015 pela Fundação Amazonas Sustentável (FAS) e, desde então, 713 alunos e 23 professores e funcionários das escolas do Rio Purus já participaram da ação.

O projeto acontece em 10 comunidades espalhadas por 8,3 mil km2 de várzea - floresta sazonalmente inundada -, algumas florestas tropicais de terra firme, estas nunca inundadas, e lagos. Uma área do tamanho de Porto Rico.

Todas as atividades da Escola D'água são lideradas por facilitadores que passam um dia em cada uma das dez comunidades do Rio Purus. Durante as visitas, são oferecidas oficinas que têm como proposta educacional desenvolver o conhecimento das crianças em relação à água.

Conscientização com bricadeiras

Alunas como Edinalva Mota, 12 anos, moradora do Rio Purus, fazem parte do projeto.

"Eu gosto de estudar as plantas, os animais, aprender sobre como cuidar deles brincando. Brincando é uma maneira de ajudar", explica.

Vitória, de 7anos , disse que depois da primeira visita, a quantidade de lixo jogado no chão diminuiu. "É uma vergonha que nem todas as comunidades estavam presentes na oficina, porque o lixo que aparece no rio aqui vem das comunidades que vivem acima de nós", afirma.

Educação inclusiva

A Escola D'água compreende três objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU: assegurar a educação inclusiva e equitativa de qualidade e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos; garantir a disponibilidade e gestão sustentável da água e saneamento e conservar e usar sustentavelmente os recursos aquáticos para o desenvolvimento sustentável.

"A gente acredita que é bem mais fácil mudar o hábito de crianças, do que dos adultos. As crianças podem se tornar embaixadoras desses hábitos que queremos mudar em relação à água", aponta a coordenadora da iniciativa, Raquel Luna.

De forma lúdica, as atividades realizadas colocam os participantes como foco central da aprendizagem, tornando-os capazes de chegar a conclusões de maneira independente a partir de problemas propostos que expõem as crianças a situações motivadoras. Brincadeiras adaptadas à realidade local que passam a ser um laboratório de discussões e ideias sobre problemas reais da região amazônica. Tudo promovido de forma leve ao público infantil.

"A Escola D'água ajuda desde a questão de higiene e saúde, como lavar a mão, tratar a água antes de beber e cuidar dos alimentos, até cuidar do meio ambiente: não jogar lixo no rio, pilhas no chão que contaminam os lençóis freáticos e outras questões", afirma.

Luna aponta que base metodológica usada no projeto é a de educação experiencial: "a gente trabalha diversos conhecimentos, desde o entendimento de onde a água vem; como a chuva, até por onde passa o seu ciclo; pelo solo, e porque é importante cuidar de todo esse processo. Tudo através de brincadeiras que propõem reflexões sobre o que a atividade ensinou para elas", explica. Em uma das atividades, a crianças utilizam bananeiras para receber água de lavagem de roupas.

Ao longo deste ano, o projeto realiza a sua terceira fase, mobilizando comunidades para construir escolas amigas da água, mutirões para reformas de espaços educacionais que devem ser inaugurados em novembro.

"Já adulto, jogo lixo na água, jogo pilha na água. Hoje, uma criança dessas já me dá uma lição. Isso tem acontecido muito na reserva, os pais se surpreendem, as criancinhas dando lições para os adultos", explica Adolfo Teixeira, um dos participantes da iniciativa.



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