A nova história do povo Yawanawá

Página 20-Rio Branco-AC - 19/04/2005
O choro que lamenta a perda, a fartura da caça e a dieta sagrada das primeiras mulheres pajés revelam o espírito guerreiro dessa tribo


Fatos inéditos vividos pela tribo revela a construção de uma nova história

Distante cerca de dois dias de barco do município de Tarauacá, no Acre, às margens do rio Gregório, quatro aldeias da mesma etnia, que somam cerca de 620 indivíduos, vivem momentos de uma nova história. Um povo sem idade oficial, que no contato com o branco e outras etnias indígenas adquiriu características físicas e outros hábitos incapazes de tirar a essência que preserva sua origem.

São guerreiros Yawanawá, pertencentes à família lingüística pano, que tradicionalmente vivem da caça e pesca, mas que começam a trilhar caminhos rumo a uma economia que sustenta sua cultura, unindo o tradicional e o moderno.

Na década de 1930, eles brigaram pela sobrevivência com os caucheiros peruanos que invadiam suas aldeias em busca da seiva do caucho - árvore de grade porte da qual se extrai o látex que origina uma borracha inferior à da seringa. Além da busca pelo produto, os caucheiros matavam os guerreiros e levavam as suas mulheres.

Na década de 1970, foi a perseguição do trabalho escravo que assolou de maneira intensa a vida desse povo. Recentemente, os índios Yawanawá lutaram pelas suas terras, pedindo uma demarcação mais justa que colocasse áreas consideradas sagradas em seu território, agora duplicado.

Mas é na luta contínua, travada desde o conhecimento de sua existência pelo branco, que a história dos Yawanawá se constrói. O desafio de melhoria da qualidade de vida sem agredir a tradição e sua cultura é um sonho que persiste.

A perspectiva para que ele se concretize se firma em projetos que começam junto ao conhecimento repassado por lideranças tradicionais, que são os mais antigos da aldeia e detentores de grande conhecimento, ensinamentos que eles direcionam às novas gerações, também protagonistas e testemunhas de outros importantes momentos que se apresentam dia após dia pela tribo.

Os Yawanawás, termo que significa "Povo da Queixada" (yawa: queixada; nawa: povo), buscam o equilíbrio entre o tradicional e moderno, atraindo a tecnologia de maneira limitada, mantendo viva a sua cultura, tradição e modo de vida. Nesse paralelo, fatos marcantes se sucedem, escrevendo novas linhas na vida desse povo forte, persistente e de extrema simpatia.

A viagem que leva a esse encontro é repleta de fatos marcantes. Na principal aldeia, a morte de um jovem guerreiro, vítima de picada de cobra, provoca o grito de lamento das mulheres que ecoa na floresta e no rio como sinônimo de perda.

A resposta dos espíritos vem com a fartura da caça. É o sinal das boas-vindas àquele que se despediu do mundo físico. E o alimento que surge como presente é o animal símbolo do povo, a queixada, que devolve o sorriso e brilho nos olhos de cada índio com a vontade de continuar a viver.

Na aldeia do Mutum, que antecede a principal, Nova Esperança, surge uma peculiaridade em dois fatos: a primeira liderança Yawanawá mulher atua ali. Logo adiante, em uma caminhada até a floresta, é ela que mostra um lugar de fatos inéditos e históricos: próximo a um igarapé de água cristalina, duas irmãs passam pela dieta sagrada, que faz parte da preparação para tornarem-se pajés. Elas são as primeiras mulheres da etnia a enfrentarem o desafio.

A odisséia rumo à terra do Povo da Queixada

Para conhecer o povo Yawanawá em seu habitat, é necessário enfrentar uma verdadeira odisséia: vencer o cansaço físico e estar aberto a um conceito de vida que foge aos modelos convencionais, para que se conheça, entenda e respeite a origem, história e propósito de vida dessa gente.

Na época de estiagem, o rio é raso demais para utilizar o motor. No período de chuvas, a estrada vira um lamaçal, impossibilitando o tráfego dos veículos. Atualmente, a dificuldade maior é exatamente na BR-364 - o percurso inicial após a saída de Tarauacá rumo ao rio Gregório: cerca de duas horas e meia de carro e três de caminhada.

A aventura continua com a viagem de barco no rio. O trajeto se torna perigoso devido aos troncos e galhos de árvores caídos nas águas. O percurso dura em média de 8 a 10 horas, o que exige do comandante do barco um bom conhecimento do lugar a percorrer. São cerca de dois dias de uma aventura, com rápidas paradas, que revelam aos poucos as características dos Yawanawá.

Com a nova área que amplia a terra - uma das primeiras demarcadas pela Fundação Nacional do Índio (Funai), em 1984 -, um posto no lugar denominado Matrixã, liderado por Panãihu Yawanawá, onde moram mais 23 índios, é uma das tentativas de seu povo de impedir a entrada de caçadores e outros intrusos. É ali o primeiro contato com os índios da região.

O novo mapa da terra dos Yawanawá coloca no território as nascentes de rios acreanos como o Gregório, o Riozinho da Liberdade, o Bajé, o Tejo, o Primavera e muitos igarapés de grande importância para a preservação de toda a bacia hidrográfica da região.

No posto, a cordialidade da etnia é notável. Cordialidade essa que a professora Leda Matilde Yawatumã chama de aliança com os brancos. Entre os seus 34 alunos estão os ribeirinhos que moram dentro da terra indígena, pessoas que o povo da Queixada considera amigas. Todos compartilham da escola que proporciona educação em uma das localidades mais isoladas do Estado. Mas os brancos estão em processo de remoção do lugar.

A cordialidade do povo da Queixada

Depois do Matrixã, seguindo rio Gregório acima, estão as aldeias do Tibúrcio, Escondido, Mutum e Nova Esperança. A última funciona como sede da etnia, que já morou um pouco mais distante, no seringal Kaxinawá, cerca de duas horas e meia de barco dali.
PIB:Acre

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